A Síndrome de Asperger e o Autismo

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“É importante aprender a lidar com esta diferença muitas vezes invisível, mas que precisa de atenção e de acompanhamento especializado.”

por: David Gaivoto *


Segundo o DSM 5, o manual do diagnóstico das perturbações da saúde mental, já não se designa como Síndrome de Asperger (SA), mas sim como uma Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) de nível 1, a condição mais leve do Autismo. No entanto, ainda há quem continue a chamar Síndrome de Asperger por variadas razões. Por exemplo, a razão da APSA – Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger é porque faz parte da sua origem, da sua designação e sentido de existência enquanto entidade do terceiro sector. Outras razões serão apontadas tendo em vista o nome do “pai” que identificou os primeiros sinais desta síndrome, o Dr. Hans Asperger.

O seu diagnóstico pode ser feito com base em determinados critérios comportamentais e preferencialmente deve acontecer ainda na infância, sendo indicado pelo pediatra ou pedopsiquiatra. Como diria Tony Attwood, um especialista e guru nesta matéria:
“We can also express it like this: the difficulties, which this boy has with himself as well as with his relationship to the world, are the price he has to pay for his special gifts. (Asperger 1938, p.2)”.
Ou seja, no fundo estas dificuldades que estes jovens e adultos sentem e têm em se relacionar com o mundo, incapacita-os de certa forma para demonstrarem na maioria das vezes as suas potencialidades e dons especiais. Tony Attwood é um psicólogo clinico doutorado e especializado em SA. É talvez o “guru” mais reconhecido a nível mundial que trata esta problemática. Temos exemplos de figuras históricas bem conhecidas como Albert Einstein ou até atuais como Bill Gates, que tendo SA conseguiram de uma forma ou outra demonstrar ao mundo as suas potencialidades.

Não sendo eu um especialista técnico na matéria, mas convivendo com esta realidade há já algum tempo, tenho assistido a uma prova do mais puro que existe na humanidade.

São jovens com os mesmos sentimentos que nós. Que querem ter uma casa. Querem ter um emprego. Querem amar e ser amados. É realmente uma deficiência que não está na cara mas existe. São de facto pessoas, jovens e adultos, que vivem numa permanente luta com as dificuldades inerentes às características da SA, que advém do foro neuro-comportamental, portanto quase invisíveis numa primeira instância ou abordagem. Mas quando se começa a lidar com eles no dia-a-dia, assiste-se a uma descoberta de uma riqueza enorme em termos humanos, de verdade e sinceridade até porque não têm filtro, mas também se percebe as suas dificuldades e ansiedades na sua interação e identificação com os padrões sociais comuns. São pessoas como todas as outras. Com sentimentos. Que precisam de amor e de amar. Que querem uma vida mais digna e mais autónoma mas que a sua condição lhes dificulta este caminho.
Por isso, é fundamental que o seu diagnóstico aconteça o mais cedo possível. Preferencialmente na infância para que se possa acompanhar, intervir e corrigir certos aspetos que podem ser melhorados, permitindo uma vida mais digna a estas pessoas.

É fundamental que os pais tenham atenção a diversas características inerentes a esta síndrome como:
padrões restritos e repetitivos de comportamentos
atividades ou interesses específicos desde a infância (na escola)
uma ausência de interação social para com os seus pares, procurando muitas vezes interagir com pessoas muito mais velhas ou até muito mais novas.
São no fundo estes alguns dos sinais transversais a esta população, pelo que a sua acentuação dependerá também da sua personalidade e do acompanhamento.

É importante aprender a lidar com esta diferença muitas vezes invisível, mas que precisa de atenção e de acompanhamento especializado. É importante que as famílias percam muitas vezes o medo ou a vergonha de um certo estigma social por ter de lidar com esta diferença dentro de casa.

Na APSA encontram um lugar especial, um lugar criado por um grupo de pais que acolhe e prepara Jovens Adultos com esta síndrome para a vida adulta, para a empregabilidade. Encontra também um tempo para ser escutado e orientado da melhor forma. É uma casa de afetos para os jovens e para todos aqueles que procuram orientação e ajuda no difícil trilho da vida que tanto mais se acentua na diferença. E acima da nomenclatura que se dá, Asperger ou Perturbação do Espectro do Autismo, o importante é sentir esta diferença. Todos somos diferentes, todos somos únicos neste mundo cada vez mais apressado. O importante é dar o mesmo espaço a todos e acreditar que todos podemos ser integradores da diferença.

No próximo mês de novembro a APSA vai lançar o último livro da autoria de Tony Attwood, editado e traduzido para português, chamado “Ask Dr. Tony”. Um livro interessantíssimo onde são colocadas questões frequentes em todas as fases da vida de uma pessoa com síndrome de asperger.

 * 40 anos, casado, pai de 2 filhas, diretor de comunicação e sustentabilidade da APSA – Associação Portuguesa de Síndrome de Asperger

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